Disciplina - Física

Física

24/09/2007

Jovens pesquisadoras são premiadas

As sete ganhadoras do programa de incentivo para jovens pesquisadoras da L’Oréal, promovido em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), foram premiadas na noite de quarta-feira (19/9), no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.

Trata-se do prêmio Para Mulheres na Ciência, cujo objetivo é apoiar jovens pesquisadoras brasileiras. Cada uma recebeu bolsa-auxílio de US$ 20 mil para iniciar o projeto submetido ao concurso. Foram 447 propostas inscritas, de todas as regiões do Brasil, por autoras que terminaram o doutorado a partir de 2003.

As ganhadoras são Lucia Codognoto (na categoria Ciências Químicas), Andrea Stucchi de Camargo e Tatiana Rappoport (Ciências Físicas), Wang Qiaoling (Ciências Matemáticas) e Ida Schwartz, Glaucia Martinez e Mônica Andersen (Ciências Biomédicas, Biológicas e da Saúde). Tarcília Nascimento, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Tiana Kohlsdorf, da Universidade de São Paulo, receberam menções honrosas.

Determinação de cumarina em formulações farmacêuticas utilizando análise por injeção em fluxo com detecção fluorimétrica foi o projeto apresentado por Lucia Codognoto, professora da Universidade do Vale do Paraíba (Univap). O trabalho da cientista, que foi bolsista de doutorado e pós-doutorado da FAPESP, será desenvolvido no Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Univap.

A pesquisa propõe o desenvolvimento de uma nova metodologia de análise da cumarina, substância extraída de plantas medicinais como o guaco e a arnica. “A cumarina está no princípio ativo de vários medicamentos, devido à sua ação antiinflamatória, anticoagulante e antitrombótica. Nosso objetivo é elaborar um método rápido e de baixo custo para quantificar a cumarina em alguns medicamentos disponíveis no mercado”, disse Lucia à Agência FAPESP

Segundo ela, o novo método poderá servir para otimizar os processos de controle de qualidade desse tipo de medicamento, à medida que será possível saber com exatidão a quantidade do princípio ativo dos produtos à base de cumarina. O projeto inclui ainda o estudo das propriedades químicas da substância, que serão depositadas em banco de dados e poderão ser utilizadas por outros cientistas na elaboração de novos medicamentos.

“Ganhar esse prêmio é muito importante tanto para o avanço dos trabalhos científicos aprovados como para o reconhecimento das mulheres como produtoras de conhecimento. Creio que não foram apenas as sete ganhadoras, mas todas as participantes que se sentiram homenageadas pelo fato de concorrerem em um prêmio destinado exclusivamente às mulheres cientistas”, disse Lucia.

Transmissão óptica

Andrea Stucchi de Camargo, ganhadora na categoria Ciências Físicas, é professora do Instituto de Física de São Carlos da USP. Ela desenvolverá o projeto Estudos espectroscópicos de sólidos com propriedades ópticas e magneto-ópticas, com o objetivo de estudar materiais com aplicações em dispositivos ópticos.

“O projeto irá caracterizar alguns tipos de meios ativos para emissão laser, como cerâmicas transparentes, cristais e vidros ópticos dopados com íons terras-raras. O objetivo é descobrir quais são os melhores materiais para geração ou propagação do laser em diferentes espectros da luz. Com isso, estaremos formando competência nacional por meio de pesquisas de alta tecnologia”, afirmou Andrea.

Segundo ela, o trabalho poderá ser aplicado em setores como telecomunicações, que transmite sinais e dados por meio de fibras ópticas, ou medicina, que utilizam laser em cirurgias oftálmicas e odontológicas, por exemplo. Andrea também teve bolsas de doutorado e pós-doutorado da FAPESP e atualmente recebe apoio na modalidade Auxílio a Pesquisa.

“Esse prêmio é uma iniciativa fantástica e rara. Além do aspecto financeiro que me auxiliará no projeto de pesquisa, trata-se de um grande incentivo, uma vez que o número de mulheres nas ciências, especialmente as exatas, é ainda muito pequeno”, disse a pesquisadora do Grupo de Ressonância Magnética, Espectroscopia e Magnetismo do Departamento de Física Aplicada da USP.

Projetos promissores

Wang Qiaoling, professora da Universidade de Brasília, com o projeto intitulado Auto-valores do operador poli-harmônico e o teorema da esfera, pretende estudar, entre outras coisas, a curvatura de variedades presentes na equação sobre a relatividade de Albert Einstein.

Efeito de flavonóides sobre a oxidação do DNA por oxigênio molecular singlete na presença de melanina, de Glaucia Martinez , da Universidade Federal do Paraná, tem como objetivo a investigação de como os flavonóides, composto químico de origem animal, podem interferir no processo de oxidação do DNA por meio da melanina, pigmento natural da pele, quando expostos aos raios ultravioleta.

Tatiana Rappoport, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), propõe com Manipulação de spins e cargas: dos semicondutores magnéticos ao grafeno novos estudos na área da spintrônica, tecnologia emergente que explora a propensão quântica ao movimento de rotação característica dos elétrons (spin significa “girar” em inglês), fazendo uso do estado de suas cargas.

A pesquisa de Mônica Andersen, da Universidade Federal de São Paulo, Efeito da privação do sono na função erétil de ratos, pretende estabelecer e compreender a relação entre os distúrbios do sono e as alterações no desempenho sexual masculino.

Ida Schwartz, professora do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi premiada com o projeto Rede MPS Brasil: Investigação integrada e abrangente das mucopolissacaridoses no Brasil. Mucopolissacaridoses, ou MPS, é um grupo específico de doenças genéticas.

“Assim como outros centros brasileiros de genética clínica envolvidos nesse projeto, nosso objetivo é caracterizar os aspectos epidemiológicos, clínicos, bioquímicos e genéticos das MPS no Brasil. Com isso, poderemos ampliar o acesso ao diagnóstico, ao tratamento e à prevenção com o aconselhamento genético dessas doenças, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e das famílias”, afirmou Ida.

A comissão julgadora dos trabalhos foi formada por oito cientistas indicados pela ABC: Mayana Zatz (USP), Lucia Previato (UFRJ), Belita Koiller (UFRJ), Francisco Salzano (UFRGS), Cid Bartolomeu (Universidade Federal de Pernambuco), Beatriz Barbuy (USP), Jailson Bittencourt de Andrade (Universidade Federal da Bahia) e Marcelo Miranda Viana da Silva (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), além de Suely Bordalo, diretora científica da L’Oréal Brasil, e Pedro Lessa, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O júri teve coordenação de Jacob Palis, presidente da ABC.

O programa Para Mulheres na Ciência é inspirado no L’Oréal/Unesco For Women in Science que nasceu de uma parceria firmada em 1998 entre o Grupo L’Oréal e a Unesco. A iniciativa contempla cinco cientistas notáveis a cada ano, uma por continente, que recebem um prêmio no valor de US$ 100 mil. Três brasileiras já ganharam: Mayana Zatz, em 2001, Lucia Previato, em 2004, e Belita Koiller, em 2005.

Por Thiago Romero

Agência FAPESP

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